quinta-feira, 27 de setembro de 2007

Encruzilhada de Caminhos


É facto já conhecido do público em geral: a «Editorial Caminho» mudou de proprietário.
Alienada a sua participação na «MediaCapital», Miguel Pais do Amaral «partiu para outra», ainda que com contornos não muito distanciados dos que do antecedente enformavam a sua actuação concentracionária na área do (ainda que pequeno) mundo editorial português.
A grande surpresa foi a disponibilidade do Partido Comunista Português (PCP) em abrir mão de uma referência sua.
Com efeito, por mais que se especule, argumente ou relativize, é incontornável que a «Editorial Caminho» constituía, por si mesma, uma referência «ao» PCP.
Será de admitir que na perspectiva dos seus dirigentes máximos actuais ela já não constituísse uma referência «do» PCP ? É matéria que não cabe a estranhos, para já, abordar.
O edifício onde se encontrava instalada a «Caminho», bem como parte do equipamento que nele se encontrava ao serviço da editora, foram excluídos do negócio jurídico efectuado.
Mas não os direitos por ela detidos no que respeita à edição de autores carismáticos, nem o pessoal que com ela mantinham vínculos laborais.
Quanto àqueles autores, Miguel Pais do Amaral ter-lhes-á até assegurado um substancial aumento dos respectivos direitos de autor.
Quanto ao pessoal laboralmente dependente, os «rumores» são vagos, imprecisos. Quanto se sabe, parte dele terá que ser dispensado.
Só que o pessoal que laboralmente se encontrava vinculado com a «Caminho» tem características especiais. Trata-se de cerca de 50 pessoas ideologicamente conotadas com o PCP (se não, mesmo, filiadas no Partido), grande parte das quais nela trabalhando por largos anos, e portanto nada jovens. Quanto é de presumir, o seu empenho ideológico e a sua dedicação terão afastado a ideia de reivindicação de melhores salários e suprido o incumprimento do dever geral da empresa de entretanto lhes dar formação profissional actualizada e certificada.
Daí a ansiedade em que, por força do negócio realizado, vive grande parte desses trabalhadores.
Na verdade, adquiridas várias editoras Texto Editora, ASA, por Miguel Pais do Amaral, é de todo evidente que o adquirente tenderá a rentabilizá-las quanto possível, aproveitando as melhores sinergias de cada uma delas. E muito naturalmente dispensando as demais. É um elementar dever empresarial!
Pelas dispensas daquele pessoal (sem eufemismos, pelos despedimentos) que se venham a verificar, será objectiva, imediata e publicamente apontado e responsabilizado «o capital». Os trabalhadores que se mantiverem ao serviço da nova entidade patronal terão que o fazer para outra localidade, suportando o ónus das inerentes deslocações.
Na sombra restará incólume quem vendeu a empresa, mantendo a propriedade dos bens imóveis e parte dos equipamentos que lhe estavam afectos, mas traficando a situação laboral e principalmente a dedicação das pessoas.
Despedimentos… Negócios… Deslocalizações…
A que dizer «NÃO»?