terça-feira, 26 de junho de 2007

A Memória dos factos


O ano 1975 constitui um marco na História recente de Portugal.

- Foi no seu decurso que a independência dos territórios portugueses em África foi reconhecida «de jure» pelo Governo Português.
- Foi no seu decurso que centenas de milhares de pessoas que tinham a sua vida estabelecida e estabilizada nesses territórios rumaram a este quadrilátero europeu, de mãos vazias que não de ânimo.
- Foi no seu decurso que o Governo Português preferiu as coisas às pessoas, nacionalizando terras e empresas detidas por cidadãos seus e retirando a nacionalidade portuguesa a quem não havia conhecido outra até então. Ainda hoje muitas dessas pessoas e seus descendentes permanecem entre nós em situação considerada ilegal em razão daquela decisão, atentatória do mais elementar dos direitos humanos.

Para que a memória se não dilua pelo assentar da poeira do tempo, é minha intenção ir evocando aqui alguns dos actos e dos factos que em meu entender foram marcantes no não muito distante ano de 1975.

Junho 1975
2 —
Declaração do ministro da Indústria e Tecnologia. De terem sido fixados os preços de venda ao público dos combustíveis liquidos a partir de1 de Abril 75
— Resolução do Conselho de Ministros. Estabelece normas provisórias para a instalação e funcionamento inicial da Assembleia Constituinte até à entrada em vigor do respectivo Regimento, aprovadas pelo Conse­lho de Ministros na sua sessão de 30 de Maio de 1975.
D. L. n.° 272/ 75. Revoga o D. L. n.° 44 062 de 28 de Novembro de 1961 — Determina que, sempre que detectados, seja obrigatória a reabertura dos processos em que, por virtude da aplicação do referido decreto-lei, tenham sido isentos de pena ou havidos como tendo agido em legitima defesa membros da ex-Legião Portuguesa.
Abertura da Assembleia Constituinte. O Presidente da República, Costa Gomes discursa.
4— D. L. n.° 274/75. Estabelece medidas relativas à necessidade de obstar à criminalidade no domínio do furto de automóveis e contrafacção dos respectivos ele-mentos identificadores.
— Resolução. Designa o vice-almirante José Baptista Pinheiro de Azevedo para desempenhar interinamente as funções de Presidente da República.
Port.a n.° 337-A/ 75. Introduz alterações na redacção de vários artigos do Estatuto do Oficial do Exército.
— Presidente da República Costa Gomes inicia uma visita oficial a França.;
4— Resolução do Conselho de Ministros. Adopta várias providências relativas ao empreendimento de Cabora Bassa.
D. L. n.° 276-B/75. Autoriza o ministro das Finan­ças a transferir, em nome do Estado, para a sociedade concessionária que se constitui para a exploração do aproveitamento hidroeléctrico de Cabora Bassa, as posições contratuais do Estado português.
Despacho. Cria a Comissão Coordenadora da Reor­ganização dos Serviços da Dívida Pública e indica a sua constituição.;
O presidente norte-americano Gerald Ford visita o papa Paulo VI
5 – Num referendo, 67,2% dos ingleses aprovam a permanência do reino Unido na CEE ; Reabertura do canal do Suez, encerrado em Junho de 1967, desde a Guerra dos Seis Dias com Israel
A Grécia solicita a sua adesão à CEE ; Independência de Cabo-Verde
D. L. n.° 278/75. Cria o Gabinete de Planeamento da Região dos Açores.
- D. L. n.° 280-A/75. Nacionaliza a sociedade Metro­politano de Lisboa, SARL.
D. L. n.° 280-B/75. Nacionaliza a Empresa Geral de Transportes, SARL.
- D. L. n.° 280-C/75. Nacionaliza vários grupos de empresas de transportes públicos (num total de 54 empresas de transportes de passageiros e mercadorias).
Port n.° 338-A/75. Introduz alterações no Esta­tuto do Oficial da Força Aérea.
6 — O CR determina a reabertura do jornal República, que será entregue à administração.
Manifestação em Ponta Delgada exige o afastamento do Governador Borges Coutinho, do MDP/ CDE. Pouco mais tarde será a perseguição aos partidos de esquerda.
7 — Resolução do Conselho da Revolução. Determina que o SDCI seja dirigido superiormente por três membros do CR, os quais terão, para todos os efeitos, competência igual à de ministro.
9 — Início dos trabalhos da Assembleia Constituinte. Henrique de Barros, do Partido Socialista, é eleito Presidente.
Aristides Pereira, secretário-geral do PAIGC, visita oficialmente Portugal.
11— Port.ª N.° 359/75. Fixa os limites a observar na venda, a residentes em territórios nacional, de notas e moedas metálicas estrangeiras com curso legal nos res­pectivos países e de outros meios de pagamento sobre o exterior, para despesas de viagem e turismo.
12 — D. L. n.° 288-C/75. Cria a Empresa Pública Rodoviária Nacional.
Independência de São Tomé e Príncipe ;
Confrontos em Luanda entre facções políticas rivais causam 300 mortos
Reúne-se em Portugal o Comité de Descoloniza­ção da ONU (Comité dos 24).
— Decorrem (até 15) as negociações entre Portugal e Cabo Verde, representado pelo PAIGC, sobre a desco­lonização de Cabo Verde, estando prevista a eleição da Assembleia Nacional daquele território em 30 de Junho de 1975.
— Resolução do CR. Nomeia a Comissão do MFA prevista em C.2 da Plataforma de Acordo Constitu­cional com os Partidos Políticos.
— D. L. n.° 287/ 75. Estabelece medidas relativas a acautelar os interesses dos cidadãos nacionais residentes no estrangeiro em situação militar irregular.
— D. L. n.° 288-B/ 75. Concede o grande colar da Ordem do Infante D. Henrique à Sr.a D. Elena Ceau­sescu, esposa do Presidente da República Socialista da Roménia.
- O Supremo Tribunal de Allabbad, na India, anula, por corrupção, a eleição de Indira Gandhi, em 1971, o que implica que a primeira ministra não pode desempenhoar funções durante 6 anos; A Grécia solicita a sua adesão à CEE
13 — O Presidente da República inicia uma viagem ofi­cial à Roménia.
14 — Roubo de armas de Santa Margarida que origina vasta operação stop em todo o País.
Comunicado do Episcopado sobre o momento presente, colocando reservas ao processo revolucionário.
16 — Na data marcada para a reabertura das instalações do jornal República não há acordo com a administra­ção, sendo reaberto o jornal, onde entram apenas os trabalhadores. Até 10 de Julho será o impasse.
Realiza-se a Cimeira de Nakuru, Quénia, com a participação dos três movimentos nacionalistas angolanos. É celebrado um acordo que prevê a realização de eleições, mantendo-se a data de 11 de Novembro para a independência.
Contudo, em Angola prosseguem os combates entre a FNLA e a MPLA, enquanto se intensifica o fluxo de retornados para Portugal.
D. L. n.° 292/75. Garante, com determinadas excepções, uma remuneração de montante mensal não inferior a 4 mil escudos a todos os trabalhadores por conta de outrem.
D. L. n.° 293/75. Extingue os Grémios Facultativos que dentro de 60 dias não se transformarem em associa­ções patronais.
— D. L. n.° 294/ 75. Garante uma remuneração mínima mensal de 4 mil escudos aos trabalhadores da função pública e adopta outras providências relativas aos mesmos trabalhadores. ;
Nas eleições gerais em Itália, a Democracia Cristã obtém 35,3% dos votos e o Partido Comunista 33,4%
17 — D. L. n.° 294-B/75. Extingue o Tribunal Militar Territorial de Cabo Verde.
— Manifestação dos Conselhos Revolucionários de Trabalhadores.
18 — Despacho. Cria uma comissão de investigação ao caso do navio “Angoche”.
Comunicado do COPCON sobre o caso do jornal República, apoiando os trabalhadores.
Manifestação e contra-manifestação frente ao Patri­arcado devido à situação na RR, com incidentes graves. O PS, através do seu porta-voz Sottomaior Cardia, apoia a Igreja Católica. 19 — O CR aprova o Plano de Acção Política.
— D. L. n.° 296/75. Extingue, entrando imediatamente em fase de liquidação, o Grémio Nacional dos Bancos e Casas Bancárias.
Comunicado do COPCON justificando a sua actua­ção na manifestação no Patriarcado.
Comunicado da Secretaria do Patriarcado e do Con­selho Permanente do Episcopado sobre a RR.;
C. Tsatos é eleito presidente da República da Grécia
20 — D. L. n.° 299/ 75. Estabelece normas destinadas a coordenar o funcionamento do Governo. Manifestação do Partido Socialista de apoio ao Plano de Acção Politica aprovado pelo Conselho daRevolução.
Comunicados de vários partidos face aos acontecimentos frente ao Patriarcado em 18 (documentos do PS, PCP, PPD, UDP).
D. L. n.° 301/75. Extingue a Inspecção-Geral de Créditos e Seguros.
21— D. L. n.° 306/75. Extingue, entrando imediatamente em fase de liquidação, o Grémio dos Seguradores.
24 — Despacho. Constitui uma comissão de coordena­ção das negociações no domínio económico e financeiro com os novos Estados.
D. L. n.° 308-A/75. Estabelece normas sobre a conservação da nacionalidade portuguesa pelos portugueses domiciliados em território ultramarino tornado independente.;
Um boeing despenha-se perto de Nova Iorque, provocando mais de 100 mortos.
25 — Port.a n.° 387/ 75. Introduz alterações ao Estatuto do Oficial da Armada.
Realizam-se em Lourenço Marques (Maputo) as cerimónias da independência de Moçambique. Vasco Gonçalves chefia a delegação portuguesa.
Moçambique torna-se independente
26 — D. L. n.° 310/75. Introduz diversas modificações no Serviço de Assistência Religiosa das Forças Armadas.;
Indira Ghandi não aceita o veredicto do Supremo Tribunal, proclama o estado de sítio e faz prender os chefes políticos da oposição, excepto os comunistas pró-soviéticos.
27 - D. L. n.° 314/ 75. Determina a aplicação de várias sanções aos militares que pelas suas actuações contri­buam para a discórdia e a divisão nas Forças Armadas e prejudiquem o bom desempenho das especiais respon­sabilidades e tarefas que lhes incumbem.
29 — Fuga de 88 agentes da PIDE da prisão de Alcoentre.
30 — D. L. n.° 329/ 75. Cria em Paris uma missão permanente a que caberá a representação de Portugal junto da UNESCO
D. L. n.° 329-A/75. Introduz alterações no Estatuto dos Oficiais das Forças Armadas, aprovado pelo D. L. n.° 46 672 de 29 de Novembro de 1965.
D. L. n.° 329-B/ 75. Cria o Serviço de Informática do Exército (SIE).
D. L. n.° 329-C/75. Demite da corporação dos ofici­ais da Armada, desde 25 de Abril de 1974, o almirante Américo de Deus Rodrigues Tomás.
D. L. n.° 329-E/75. Determina que aos militares na efectividade de serviço seja abonado, em cada ano, um subsídio de férias.
Decorre a Cimeira de Macau sobre a questão de Timor com a participação de delegações de Portugal, UDT e APODETI. A FRETILIN não comparece por discordar da participação da APODETI. O comunicado final anuncia a formação, a curto prazo, de um Governo de Transição presidido por um Alto-Comissário português, bem como de um Conselho de Governo, que preparará a lei eleitoral que decidirá o futuro de Timor, independência ou integração na Indonésia.
Portugal estabelece relações diplomáticas com a Guiana.
Novos combates em Luanda envolvem pela primeira vez os três movimentos nacionalistas. No Norte a situa­ção continua tensa, combate-se intensamente na capital do Uíge e o MPLA parece dominar os acontecimentos em Cabinda.

4 comentários:

Anónimo disse...

bom trabalho. parabéns

Anónimo disse...

quer levantar fantasmas??? vá pra o diabo que a ...

Anónimo disse...

Ah! O menino tem medo dos fantasmas? Pior cego é o que não quer ver!

Anónimo disse...

grande trabalho. quando é que escreve um livro?


Miriam