sábado, 2 de junho de 2007

Reis de Portugal



Quando do anúncio pelo «Circulo de Leitores» do seu propósito editorial de publicação de uma colecção de biografias dedicadas a cada um dos Reis de Portugal (34 volumes, cartonados, sobrecapas apelativas), no meu foro íntimo levantou-se a suspeita de que ele poderia vir a constituir um belo pretexto para adorno da sala-de-visitas de muitas casa portuguesas. Uma espécie de «bibelot» que, servindo de emulação às visitas pela sua visibilidade e extensão, aparentasse um interesse dos seus possuidores pela cultura e história pátria.

Bem à vista e arrumadinhos, lidas as primeiras páginas dos primeiros volumes recebidos, estes só serão retirados das prateleiras para limpeza do pó (que, asseadas, são as casas portuguesas).

Não sei se em alguns casos assim será.

Os trabalhos produzidos não merecem de nenhum modo que esta minha visão redutora inicial possa ter acolhimento.

Ao contrário, eles constituem não só um repositório da história de Portugal de consulta obrigatória e frequente para quem queira aprofundar os seus conhecimentos históricos ou colher pormenores de uma dada época da vida da nação portuguesa, como também para despertar em outros, nem que seja por fortuito passar de olhos por um que outro volume, um indisfarçado interesse pelo passado.

Passado que, queiramos ou não, nos moldou, a nós Portugueses, em um ou outro sentidos, mesmo por vezes antagónicos. Que, em suma, nos revela o que somos, como somos, e porque o somos.

Não é impunemente que nas páginas da colecção dedicada às biografias dos Reis de Portugal perpassem quase oito séculos da existência desta unidade que é Portugal !...

Não cabe neste apontamento deixar menção especial sobre qualquer das figuras biografadas.

E muito menos tecer considerações críticas sobre a visão que os autores de cada uma delas apresentam dos seus biografados. Das qualidades humanas destes e das suas fraquezas e misérias, dos seus dotes intelectuais e dos constrangimentos concorrentes para a formação da sua personalidade, da sua acção como governantes e do modo como lidaram com a permanente imbricação dos poderes civil e eclesiástico, num Estado que teve um catolicismo eminentemente tradicionalista, eivado de algumas intolerâncias mas fortemente inscrito na consciência individual e colectiva, como religião oficial.

Mas não pode deixar de referir-se a seriedade e profundidade da investigação subjacente a cada uma das biografias produzidas (com profusa revelação e citação das fontes que lhes serviram de suporte), e um claro esforço de distanciamento por parte dos seus autores das interpretações históricas próprias das eventuais escolas ideológicas em que a sua formação intelectual se inscreva. Esta convicção fundamenta-se também na circunstância de, por força da associação do infante presuntivo sucessor às tarefas da governação explicitamente feita pelo rei ou simplesmente pelas «impaciências», rebeldias e afrontamentos do presuntivo sucessor durante o reinado de seu pai, não se mostrar visão substancialmente diferente no tratamento dado por autores diferentes a um mesmo período histórico.

Afigura-se-nos que, por esta via, a colecção «Reis de Portugal» se apresenta, a despeito da grande diversidade de autores, com uma unidade referencial assinalável.

Mérito incontestado é ainda de atribuir ao reporte feito aos eventos europeus coevos do período histórico de cada reinado. A ligação e comparação temporal dos fastos portugueses com os principais acontecimentos da Europa (e a partir do ciclo dos descobrimentos com o mundo) é imprescindível para a sua compreensão. Como igualmente o são as alianças matrimoniais entre as casas reinantes na Europa espelhadas nos quadros genealógicos contidos no final de cada volume, influentes que tais alianças foram no delineamento e na execução das políticas externas dos países europeus. Equilíbrios contingentes e instáveis é certo, e frequentemente funestos para as comunidades nacionais ou para-nacionais mais frágeis. Mas foi essa a história europeia!

Cada vez mais esquecida, maltratada e truncada como disciplina curricular do ensino nas escolas portuguesas, a História de Portugal merecia uma revisitação global por forma inédita.

Creio firme e fundamentadamente que a editora «Círculo de Leitores», contribuiu de forma notável, com a concretização do seu propósito editorial, para a acessibilidade a esta «revisitação».

Pelo número de volumes, o seu custo global não é nada simbólico. Contudo é bem capaz de ser inferior ao de uma efémera viagem às Caraíbas em curtas férias de Verão!... E será bem mais perene que qualquer colecção de fotografias digitalizadas.

7 comentários:

Anónimo disse...

É assim , os portugueses deviam todos gostar de ler a Historia de portugal e Saber. Já lá vão os tempos em que os curriculos incluiam tb historia universal , coisa que foi abolida dos manuais escolares segundo me consta.
Quanto aos passeios , já reparou que são todos para fazer praia:)))apenas praia....bjs annie hall do outsider

Anónimo disse...

Este artigo devia ser publicado na imprensa.

Um grande abraço franco, cheio, de amizade e gratidão

Miriam Assor

Anónimo disse...

Bem vinda ao mundo dos blogues.
O seu está com muita pinta.
Bjo
B

Anónimo disse...

que me perdone
pero estoy com diez minutos autorizados por dia en el ordenador y por ahora mi nombre está en silêncio.
puero volveré con piedra papel e algo más
besos mil
cd

Anónimo disse...

Parabens!
Lamento não poder fazer comentários no blog, porque neste computador não posso dispôr de conta. Mas o que diria, seria isto:
"Tìtulo intenso e de beleza retratadora da sensibilidade da autora do blog.
Escolha de citação de profunda oportunidade.
Texto de marcante actualidade, atraente, revelador de uma colmatagem merecida de emoções, sentimentos e encómios não prestados a esta figura pública.
Felicidades e força na continuidade.
Mané" Beijinhos

Ana Cristina Leonardo disse...

e cá vamos nós, a todo o vapor. e já com leitores fiéis

Anónimo disse...

Nem todos os blogues tê interesse. Este começa bem. Os desejos de uma continuação ainda melhor.